terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Artigo - História e impacto da entrada da Sigatoka-negra no Brasil – 10 anos da identificação da doença

Em dezembro de 1997, durante um trabalho realizado em Tabatinga e Benjamin Constant, para avaliar a incidência e prevalência de doenças vasculares da bananeira (Moko e Mal-do-panamá) realizado pelos técnicos na época, da Delegacia Federal da Agricultura do Estado do Amazonas e Embrapa Amazônia Ocidental, Ana Fabíola, Carlinhos, José Clério Rezende Pereira e Luadir Gasparotto, detectaram uma nova doença foliar ocorrendo em bananeira, de forma severa induzindo perdas de até 100% nas cultivares prata, maçã e nos plátanos Pacovan (D’angola) e Pacovi (Banana da Terra).  

Em fevereiro de 1998, nos laboratório de Fitopatologia da Embrapa Amazônia Ocidental, os pesquisadores José Clério, Luadir Gasparotto, Araides Fontes e a na época bolsista de DCR Ana Fabíola, confirmaram a identificação da doença como sendo Sigatoka-negra causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, anamorfo Pseudocercospora fijiensis.  A primeira publicação da ocorrência da doença encontra-se nos Anais do Congresso Brasileiro de Fitopatologia realizado em Fortaleza, Ceará em agosto de 1998. 

Nos anos de 1998 e 1999, foram efetuados levantamentos da incidência da doença no Estado do Amazonas pela calha do Rio Solimões/Amazonas, desde Atalaia do Norte até a divisa com o Pará, Rio Negro, de São Gabriel da Cachoeira até Manaus, todos os municípios da calha do rio Madeira. Em 1999, portanto, a doença estava ocorrendo nos Municíos de Benjamin Constant, Tabatinga, Coari, Rio Preto da Eva e São Gabriel da Cachoeira. Este último, provavelmente a doença entrou via mudas pela Venezuela.  Entre 2001 e 2002, a doença já ocorria em todo o estado do Amazonas, com exceção de alguns municípios na calha do Rio Madeira. Até o anos de 2004, a doença já ocorria em todos os estados da região norte, exceto Tocantins.

Em 1998 foram instalados os primeiros experimentos para avaliar o comportamento de cultivares de bananeiras frente à Sigatoka-negra. Como resultado destes experimentos recomendou-se no final de 1999, em Dias de Campo em Tabatinga e Benjamin Constant, as cultivares Thap maeo e Caipira como resistentes à doença. Atualmente, estão recomendadas 12 cultivares de banana resistentes à Sigatoka-negra, com as características descritas abaixo.

A base alimentar das populações da Amazônia, em especial aquelas que vivem no interior e em áreas isoladas, está baseada em tripé, composto por mandioca, peixe e banana. Com a entrada da doença na Região a produção de banana e plátanos foi devastada, fazendo o consumo per capita da fruta cair de 70 kg por habitante para próximo 30 kg, pela falta do produto.  No campo, principalmente nas áreas de várzea, muitos produtores rurais perderam sua principal fonte de renda, no caso a banana, obrigando a uma mudança de perfil na incipiente produção agrícola no Amazonas. 

Parte produção de banana foi substituída por mamão e maracujá e as cultivares resistentes à Sigatoka-negra de bananeiras. Desconhecem-se as reais conseqüências econômicas e sociais da entrada da doença na Amazônia, em especial no Amazonas, por parte dos agricultores tradicionais. Acredita-se que parte deles tenham abandonado suas terras e migrado para a capital Manaus ou cidades do interior do Estado. 

A maior parte dos produtores tradicionais que abandonaram a cultura foi substituída por uma nova geração de produtores capitalizados e tecnificados , muitos em áreas de terra firme, produzindo até 20t/ha ao ano contra cerca de 8 t/ha ao ano dos produtores tradicionais na várzea. Entretanto o Amazonas continuou importando cerca de 80% da banana consumida no estado, em particular de Roraima. 

Existe um grande potencial para a produção de banana no Amazonas, o que poderia gerar empregos e prevenir o êxodo rural, além de manter a movimentação financeira dentro do estado. É uma cultura que emprega um trabalhador para cada 1,5 ha cultivados, poder gerar até R$10.000,00 por ha/ano, não exige a aplicação de defensivos químicos e é ideal para ser utilizada por pequenos produtores rurais, em razão de seu elevado rendimento por área, alta demanda por mão-de-obra e facilidade na comercialização. 

O mercado de banana hoje está adaptado às novas cultivares, estimando-se que apenas em Manaus o potencial de consumo pode chegar a 115.000 toneladas ao ano, ou seja, aproximadamente 57 milhões de reais de renda para o produtor, partindo de um preço base de R$0,50 o quilo da fruta. 

Para que todo este potencial possa ser mostrado, alguns gargalos devem ser superados para que a bananicultura retome o lugar que lhe é de direito, principalmente no que se refere à oferta de mudas para a formação de novos bananais em todos os municípios do estado. 


José Clério Rezende Pereira, Luadir Gasparotto, Murilo Rodrigues de Arruda Mirza Carla Normando Pereira
Pesquisadores da Embrapa Amazônia
Ocidental


Fonte: Grupo Cultivar

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