sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Mestrado profissional, uma saída para a formação de professores, artigo de Wanderley de Souza

JC e-mail 3695, de 04 de Fevereiro de 2009.

“A análise da proposta destes cursos deixa claro que na maioria dos casos têm como objetivo formar, de maneira objetiva, e no menor tempo possível, o que pode ocorrer em tempo integral em um período de 18 meses, profissionais especializados em áreas de grande demanda”

Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ e diretor de Programas do Inmetro, é membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina. Artigo publicado no “Monitor Mercantil”:

Os últimos dados divulgados pelo Ministério da Educação e Cultura apontam no sentido de que o número de alunos do ensino fundamental e médio atingem hoje as cifras de 32 milhões e 8,3 milhões, respectivamente. Ainda que a melhoria nestes indicadores possa ser alcançada, e certamente o será graças ao empenho do MEC e das secretarias estaduais e municipais de Educação, não é este o maior problema do ensino no Brasil que reconhecidamente está abaixo do mínimo considerado razoável.

Reverter este quadro constitui o maior desafio para a Educação brasileira. Certamente tal reversão é possível, mas exigirá uma atuação continuada em vários setores, o que inclui infra-estrutura física, infra-estrutura laboratorial, melhoria salarial dos profissionais envolvidos com Educação e, o que me parece mais importante, estímulos para que os nossos melhores jovens vejam na atividade docente uma possibilidade de realização profissional, como já o foi no passado. É ainda necessário um amplo programa para melhor capacitar pelo menos parte do corpo docente existentes nas escolas em funcionamento.

Como melhorar o nível acadêmico dos milhares de professores hoje em sala de aula? Como atrair os melhores jovens egressos dos cursos de bacharelado e licenciatura para a atividade docente? A saída que me parece mais viável, ainda que seu efeito só poderá se tornar perceptível lentamente, é um forte incentivo governamental que dê oportunidade a que uma parcela significativa dos professores atuais, e um contingente crescente dos novos professores, façam o mestrado profissional em atividades de ensino.

Porque o mestrado profissional? Inicialmente, cabe ressaltar que esta nova modalidade de curso de pós-graduação foi introduzida recentemente no país e com o objetivo principal de atender demandas específicas do setor produtivo. Atualmente a Capes reconhece 253 cursos de mestrado profissional, sendo que a maioria deles em áreas como a Engenharia (47 cursos nas subáreas de Produção, Mecânica, Civil e Elétrica, entre outras), as Ciências Sociais Aplicadas (47 cursos, sobretudo em Administração e Economia), a área da Saúde (41 cursos, com destaque para as subáreas da Odontologia e da Saúde Coletiva), as Ciências Agrárias (nove cursos) e um conjunto de cursos englobados no que se convencionou chamar de área multidisciplinar (81 cursos).

A análise da proposta destes cursos deixa claro que na maioria dos casos têm como objetivo formar, de maneira objetiva, e no menor tempo possível, o que pode ocorrer em tempo integral em um período de 18 meses, profissionais especializados em áreas de grande demanda. Tal objetividade e rapidez fizeram com que estes cursos não tenham, pelo menos na sua fase inicial, sido bem compreendidos e aceitos pelas universidades de maior prestígio. Na realidade, tal reação não surpreende, uma vez que em geral mesmo as melhores universidades são altamente conservadoras e têm dificuldades em aceitar as inovações. Aconteceu ontem com a educação a distância e hoje com o mestrado profissional.

No conjunto de cursos englobados como de natureza multidisciplinar vamos encontrar 28 cursos voltados para o Ensino de Ciências e Matemática, alguns dos quais centrados na formação de professores. Aqui surge uma grande esperança para a educação brasileira. É fundamental que surjam dezenas de cursos voltados para a formação de professores que irão conviver diariamente com nossa juventude nas escolas de ensino médio, educação profissional e mesmo no ensino fundamental.

Para que um programa como este tenha sucesso é fundamental que a formação seja feita com o objetivo de fornecer forte embasamento nas mais diferentes áreas, tendo como referência básica o currículo do ensino ao qual vai se dedicar, aliado a uma excelente formação no uso dos métodos mais avançados de ensino prático em laboratórios e bases pedagógicas moderna.

Para que um programa com estas características possa ter êxito, torna-se necessário uma série de medidas. Primeiro, as melhores universidades brasileiras devem ser estimuladas no sentido de organizarem cursos de mestrado profissional nas mais diferentes áreas, do ensino de Português ao de Física. Segundo, as autoridades governamentais nos estados e municípios devem estimular seus professores a ingressarem no mestrado profissional, concedendo bolsas de estudo. Os cursos podem ser oferecidos em tempo parcial de modo a não agravar o problema da falta de professores.

Terceiro, o plano de carreira dos professores devem prever significativo aumento salarial para os professores que tenha o mestrado profissional, desde que na área de atuação do docente. Este estímulo deve ser maior do que o concedido aos professores que tenham o mestrado acadêmico e semelhante ao que é dado para os que possuem o título de doutor. Nenhum projeto de melhoria do ensino terá sucesso se não criar estímulos que levem à consolidação de uma carreira de professor com a devida remuneração, tomando como parâmetro o salário de um professor assistente das universidades federais em regime de dedicação exclusiva.

Quarto, a Capes e as fundações de apoio à pesquisa nos estados (FAPs) devem conceder bolsas para o mestrado profissional para jovens com excelente desempenho que concluem os cursos de licenciatura e desejam prosseguir na carreira docente voltada para o ensino médio.

Qual a viabilidade econômica de um programa como este? Esta é uma questão importante uma vez que a área da Educação trabalha com grandes números. Neste caso, o impacto econômico vai ser ampliado gradativamente com o tempo, permitindo que os governos adaptem seus orçamentos no sentido de priorizar uma área fundamental para a formação dos quadros que o país necessita na sua marcha para um crescimento econômico e social sustentável.
(Monitor Mercantil, 3/2)

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